25/08/2024

O diagnóstico que me deram é: depressão. Ela é o mal do século, dizem os especialistas. No meu caso, não tem gatilhos. Não consigo encontrar a fonte, o que desencadeia ou o que deu origem. Vida perfeita. Amada, financeiro ok, sem grandes problemas na vida. Hoje é domingo. Está um dia chuvoso, como amo. Moro na cidade que amo. Tenho conforto, vivo em paz, sem cobranças ou pressões externas. No entanto, estou aqui no quarto, escrevendo essa tentativa de terapia, enquanto meu filho está sozinho na sala vendo TV. Poderíamos estar juntos, em casa ou mesmo passeando. Tem um carro na garagem, cartão de crédito liberado (na medida da minha sensatez, que tem toda a confiança do meu marido), a cidade é convidativa nos dias invernados. Minha filha está no outro quarto, trabalhando em projetos pessoais, então não me dói tanto praticar esse "abandono". Tenho medo das consequências disso na vida futura deles. Não posso prever; todos os pais erram, é impossível acertar em tudo, mas tenho medo. Nesse momento da minha vida, tenho um vício que está roubando toda minha energia, paz, que me deixa muito suscetível a irritações, que me põe em estado piorado de desânimo, mas que não consigo vencer: o vício em internet. Essa é a primeira vez que assumo isso. Dói assumir, mais do que se eu estivesse assdumindo vício em álcool ou drogras. Dói porque, a princípio, é só não pegar o celular. Mas eu não consigo. Parece que ao abrir alguma página vou achar a minha salvação, alguma coisa que vai revolucionar a minha vida ou resolver pelo menos em parte o meu problema. Então eu cedo. Abro o instagram pra ver a vida de pessoas que vivem como eu penso que gostaria de viver. A vida no campo, a vida de artesã, a vida de dona de casa que tem alegria em cozinhar pra família, limpar e organizar a casa. Ora, mas eu tenho a oportunidade de viver tudo isso agora, e por que vou ver a vida dos outros, em vez de viver a minha própria? NÃO SEI. Talvez o fato de que ver não cansa; já fazer... ali, tudo é lindo, tudo dá certo, não tem pernilongos, nem cheiro ruim no galinheiro, nem dor nas costas, nem pele feia e com marcas das roupas feitas pelo sol na pele... Fico num eterno salvamento de ideias de artesanatos, receitas, construções artesanais, exercícios físicos, tudo que me daria a vida que (penso) desejo. A vida perfeita seria essa: malhar, fazer comidas gostosas, lanchinhos fofos, ter tudo em ordem na casa, fazer artesanatos lindos pra decorar a casa e ganhar algum dinheiro. E o que me falta pra isso. ABSOLUTAMENTE NADA além de FAZER. Simplesmente isso, FAZER. Largar o celular e colocar tudo em prática. Marido adoraria. Me incentiva todos os dias, custeia os gastos necessários pra isso, e, não obstante, eu não faço. Não faço porque não tenho energia. Não tenho energia porque não saio do celular. Não saio do celular porque me conforta ver como é a vida que eu gostaria de ter. Veja que loucura! Meu Deus! Eu só posso estar doente mesmo. Então aqui está um pouquinho das elucidação dos fatos que estou tentando fazer da minha cadeia. O porquê estou nela. Pra tentar olhar de fora e ver se é isso mesmo. Porque dentro, não estou conseguindo ver. Talvez eu veja que essa pista estava errada, ela não elucida fato nenhum. Talvez eu veja que era só eu tentando arrumar uma desculpa pra aquilo que é realmente uma doença, e que eu reluto em aceitar. Mas nesse momento, é a única que tenho. Seguirei nela, tentando encontrar a chave pra minha libertação.

25/08/24
E depois de mais de uma década, estou aqui novamente. Mas não "eu" de 12 anos atrás. Hoje, um eu que se perdeu em meio à bagunça dos seus quereres; um eu que não soube qual caminho interior seguir e, como aquele burro, morreu de fome e de sede entre um lago e um pasto, sem saber o que fazer primeiro: se comer ou beber. A vida tá doída hoje. Não por nada externo: tá tudo em ordem, tudo perfeito. O problema tá dentro. Me perdi, não sei quem sou, o que quero, o que me faz feliz, do que sou capaz, do que gosto ou não gosto. Não sei que caminho tomar. Hoje retomo esse lugar como meu espaço de terapia. Talvez voltar um pouco atrás e procurar por algum resquício de identidade, mesmo que velada entre os escritos de uma personalidade que dissimulava sua aparência. Penso que nunca fui alguém. Minha vontade de não existir se camuflava nas diligentes tentativas de montar uma personalidade que pudesse parecer interessante. O erudito me atraía especialmente, e era nele que eu tentava construir aquilo que eu gostaria de ser. filosofia, música clássica, poesias, tudo que parecia me diferenciar do que era comum àquele tempo tinha minha especial atenção. O gosto era genuíno, mas a persona, não. Quem eu era? Quem eu viria a ser? Não posso dizer que não fui e que não sou ninguém; ninguém é alguém que não é coisa nenhuma, mas existe em si mesmo. Eu existo em mim mesma, sem, contudo, saber quem sou. Sou esse ninguém. Falar, não consigo. Acabo racionalizando demais, parece que na tentativa de mostrar pro outro (ou pior, pra mim mesma) que tenho razão no meu extravio. "Me perdi, mas a culpa foi do caminho". Nem posso me delongar, ou corro o risco de chorar todas as minhas pitangas aqui, e não é esse o intuito. Quero registrar os fatos como estão, pra ver se consigo ver como quem olha de fora da caixa. Espero me achar. Se eu existo, estou em algum lugar. Vou começar a procura por aqui.