Da Política

Portinari - Criança Morta

"(...) A tendência do espírito capitalista é aguçar o nosso egoísmo; dilatar nossas ambições de consumo; ativar nossas energias narcísicas; tornar-nos competitivos e sedentos de lucros. Criar pessoas menos solidárias, mais insensíveis às questões sociais, indiferentes à miséria, alheias ao drama de índios e negros, distantes de iniciativas que visam defender os direitos do pobres.


O espírito capitalista não faz distinção de classe: inocula-se no favelado e na empregada doméstica, no camponês e no motorista de táxi. E a ricos, remediados e pobres, induz à apropriação privada, não apenas de bens materiais, mas também de bens simbólicos: oro para alívio dos MEUS problemas e a cura de MINHAS doenças; voto no candidato que melhor corresponde às MINHAS ambições; adoto um comportamento que realça a MINHA figura e o meu prestígio.

Outrora, a sociedade praticou o canibalismo. Quem sabe alimentar-se com a carne do semelhante, em vez de entregá-la ao repasto dos vermes, seja mais saudável e ético do que, hoje, excluí-lo do direito de simplesmente ser humano."

Espírito Capitlista
Frei Beto
Grifos da editora

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Amigos, aqui estão dois links para assinarem dois abaixo-assinados diferentes contra a PLC 122.

A PLC 122 é um projeto de lei que pretende criminalizar todo e qualquer tipo de discriminação contra homossexuais. Até aí, tudo bem. O problema desse projeto de lei é que ele erra a mão ao especificar (ou não especificar), o que seria a discriminação. O texto desse projeto de lei fere direitos constitucionais como os de liberdade de expressão e de religião.

Copio abaixo um texto que aborda o tema de forma simples e clara, e penso que ele ajuda, em muito, a entender porque somos contra a PLC 122. Não somos a favor da violência e discriminação contra os homossexuais, ao contrário. Como cristãos, repudiamos qualquer ato nesse sentido, mas somos a favor da nossa liberdade de opinião. Tornar crime a minha liberdade de dizer que eu penso que homossexualidade é pecado não é nenhum avanço em direção à conquista de direitos civis, ao contrário, é um retrocesso em relação ao meu direito constitucional de liberdade de opinião, é inverter a discriminação e legitimar a tirania de um grupo sobre o outro. 

Espero que gostem do texto e que fortaleçam a corrente contra a PLC 122.

Seguem os links e o texto.

Bjs, que Deus abençoe cada um de vocês.


Apedrejando os outros. Algumas observações sobre o PLC 122

William Douglas

Incômodo ou não, os cristãos falam sobre pecado, um dos temas abordados por Jesus. Quando lhe apresentaram uma pecadora que, por conta de suas ações, contrárias à lei mosaica, deveria ser apedrejada, o Messias também falou sobre violência. Grande revolucionário, Cristo impediu o apedrejamento sugerindo que aquele que não tivesse pecado lançasse a primeira pedra. Contudo, em desfecho esquecido pelos mais liberais, após proteger aquela mulher, e com amor, disse: “Vai, e não peques mais”. Eis Jesus: sem pedras, sem acomodações; com amor, mas sem pecado.

Socialmente, existe violência contra os homossexuais, é fato. E um bom cristão não assiste a um apedrejamento, seja de um pecador ou não, sem fazer o que pode para impedi-lo. Por força de suas crenças, os cristãos devem se mobilizar contra a homofobia e a violência. Afinal, evitar pedras é dever cristão.

Anote-se que existem três tipos de apedrejamento: o físico, o verbal e o moral. Explico. Homicídios e lesões corporais são exemplos do primeiro; a fala agressiva, do segundo; e a imposição de ideias à força, do terceiro. No caso da fala e do discurso, temos de ter cuidado, pois o direito de expressar opinião é uma conquista da democracia e compõe o quadro dos direitos humanos. Assim, lamenta-se a fala inflamada, mas ainda assim ela há de ser admitida, posto que sua limitação é censura, tirania, mordaça. Preferia não ver pedras verbais na boca de um cristão, mas às vezes é difícil distinguir onde começa e termina a opinião e onde começa o, sempre lamentável, uso de pedras, mesmo verbais.

É preciso haver liberdade para expressar a opinião. Isso inclui o direito de um religioso dizer que a homossexualidade é pecado, e o direito de um homossexual dizer que o religioso é retrógado. Cada um com sua fé, e todos respeitando, democraticamente, o diferente. Esta é a ideia.

A índole cristã é pacífica, tanto que a violência contra homossexuais não vem partindo de grupos religiosos. É bom dizer isso para não confundir as eventuais pedras verbais de alguns religiosos com as agressões físicas dos skinheads e neonazistas, por exemplo. Claro que ainda prefiro os religiosos com discurso mais amoroso, mas não confundamos os tipos de pedras, e não sou eu quem vai dizer o que o outro pode ou não falar.

Ao lado disso, não nos esqueçamos que pedras, de todos os tipos, estão sendo arremessadas de ambos os lados. O PLC 122, na forma como foi aprovado pela Câmara dos Deputados, tem um conteúdo de apedrejamento moral, ao querer impedir que os religiosos digam que segundo seu ponto de vista a homossexualidade é pecado. Isso pode incomodar a alguns, mas é um direito constitucional. Em suma, no justo interesse de combater a homofobia, parte do movimento gay também tem suas pedras verbais e morais. E lamento por alguns artigos de lei de interesse de todos não serem editados com a urgência necessária a fim de combater a violência não só contra os homossexuais, mas também contra negros, índios e pessoas pobres. Isso tem que ser combatido, e logo.

Como cristão e cidadão, quero combater a homofobia, como também quero que seja respeitado o direito de expressão de quem, por motivo religioso ou filosófico, tem opinião contrária à homossexualidade. Querer que um religioso, cristão, judeu, muçulmano, seja processado por suas crenças, é impedir a manifestação do pensamento e da religião. É querer usar a lei como pedra para acertar os religiosos. Erra quem usa a lei para impedir os direitos dos homossexuais e erra quem quer calar os religiosos usando a lei como veículo da mordaça.

O que mais me incomoda é que esse cabo de força da expressão da opinião impeça a edição de lei que criminaliza as pedras físicas. O resultado é que, sendo interesse de ambos os lados, projetos necessários, contrários à violência, estão demorando mais do que o necessário. Nesse passo, vale dizer: a maioria esmagadora dos cristãos é contra a violência, contra a homofobia, e se alguns segmentos se opõem ao PLC 122 é porque ele erra na mão e inverte a discriminação ao invés de eliminá-la. Nesse cenário lamentável, o Senador Marcelo Crivella sugeriu à bancada evangélica um novo Projeto de Lei em substituição ao PLC 122. Este substitutivo tem o mérito de atacar a violência sem desrespeitar a Constituição, bem como de mostrar que os cristãos são contra qualquer violência, inclusive a violência contra a manifestação do pensamento. Em suma, finalmente há um projeto moderado, com inteligência e sabedoria para atacar o problema social da violência resolvendo os grandes defeitos do PLC em sua forma original. A proposta feita por Crivella, com o apoio de expressiva parcela dos evangélicos, contrários a qualquer tipo de violência, pode até ser apedrejado pelos radicais dos dois lados, mas, certamente, é o primeiro projeto que segue o caminho do meio, compondo os interesses dos dois lados sem ferir a Constituição.

Um bom cristão é contra a violência. Alerta sobre o pecado, mas não compactua com apedrejamentos físicos ou morais, e evita os verbais. Considerando que o movimento gay também prega o amor, espera-se que respeite o direito à discordância. Assim, os dois grupos podem se unir para editar uma lei capaz de combater as piores pedras, e que ajam de forma mais serena e respeitosa entre si, como só uma boa democracia, cristianismo ou arco-íris, pode permitir.



* William Douglas é juiz federal/RJ, professor e escritor. É Mestre em Direito e Especialista em Políticas Públicas e Governo.

O autor enviou a colaboração para a publicação no Genizah


Leia Mais em: http://www.genizahvirtual.com/2011/05/apedrejando-os-outros-algumas.html#ixzz1NkRfXu7v
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Origem da Palavara FAVELA




Você já parou para pensar qual o motivo de chamarmos os bairros pobres e sem infraestrutura de "FAVELAS"?
Eu sempre achei que fosse um nome indígena ou qualquer coisa assim, mas a história é bem mais interessante que isto.
O origem do nome "FAVELA" remete a um fato marcante ocorrido no Brasil na passagem do século XIX para o século XX: a Guerra de Canudos.
Na Caatinga nordestina, é muito comum uma planta espinhenta e extremamente resistente chamada "FAVELA"
FAVELA (euforbiácea)
nidoscolus phyllacanthus Pax & K. Hoffm (Jatropha phyllacantha Mart.). – É uma árvore com mais ou menos 3-5 m de altura, irregularmente esgalhada, lactescente, profusamente armada de espinhos cáusticos. Folhas longas, grossas, lanceoladas, profundamente recortadas, com pequenos acúleos no limbo e espinhos nas nervuras. Flores alvas, hermafroditas, de 4 mm de diâmetro, em pequenos cachos axilares e terminais. Cápsula deiscente, provida de sementes parecidas com as da mamona. As picadas dos espinhos da favela provocam inflamações dolorosas, demoradas e, se atingem uma articulação, podem até aleijar a parte afetada. Essa extrema virulência talvez se deva ao látex encontrado em toda a planta. Seco, o látex torna-se quebradiço e pode ser aproveitado para iluminação e como remédio balsâmico. As folhas maduras e a casca servem de forragem às cabras, carneiros, jumentos e mesmo aos bovinos. As sementes engordam as galinhas, porcos e ovinos. Porém a grande importância da favela está em suas sementes, dando a esta planta uma posição destacada como produtora de óleo alimentício e de farinha, esta rica em sais minerais e principalmente em proteínas. É uma xerófila por excelência, vegetando nos tabuleiros rasos e pedregosos dos sertões mais secos do Nordeste.
Entre 1896 e 1897, liderados por Antônio Conselheiro, milhares de sertanejos, cansados da humilhação e das dificuldades de sobrevivência num Nordeste tomado de latifúndios improdutivos e secas, criaram a cidadela de Canudos, no interior da Bahia, revoltando-se contra a situação calamitosa em que viviam. 

Em Canudos, muitos sertanejos se instalaram nos arredores do "MORRO DA FAVELA", batizado em homenagem a esta planta.



Estátua de Antônio Conselheiro olha pela nova Canudos. A cidade original foi alagada para a construção de um açude.







Morro da Favela na época
da Guerra de Canudos

Morro da Favela atualmente



 

 

 

 


Com medo de que a revolta minasse as bases da República recém instaurada, foi realizado um verdadeiro massacre em Canudos, com milhares de mortes, torturas e estupros em massa, num dos mais negros episódios da história militar brasileira, feito com maciço apoio popular.
Quando os soldados republicanos voltaram ao Rio de Janeiro, deixaram de receber seus soldos, e por falta de condições de vida mais digna, instalaram-se em casas de madeira sem nenhuma infraestrutura em morros da cidade (o primeiro local foi o atual "Morro da Providência"), ao qual passaram a chamar de "FAVELA", relembrando as péssimas condições que encontraram em Canudos.
Morro da Providência - Início
Morro da Providência - Atual


 




Este tipo de sub-moradia já era utilizado a alguns anos pelos escravos libertos, que sem condições financeiras de viver nas cidades, passaram também a habitar as encostas. O termo pegou e todos estes agrupamentos passaram a chamar-se FAVELAS.

Mas existem vários "MITOS" sobre as Favelas que precisam ser avaliados:


Maior favela do mundo -
Neza, México



01 - Costumamos achar que as maiores Favelas do mundo encontram-se no Brasil, mas um engano. Nenhuma comunidade brasileira aparece entre as 30 maiores do Mundo. México, Colômbia, Peru e Venezuela lideram o Ranking, em mais um triste recorde para a América Latina.
(Vista aérea da Favela de NEZA, nas proximidades da Cidade do México. A Maior do mundo, com mais de 2,5 milhões de Habitantes.)


Chabolas madrileñas, as
favelas espanholas


02 - Outro engano comum é achar que as Favelas são um fenômeno "terceiro-mundista", restrito a países subdesenvolvidos ou emergentes. Apesar de em quantidade bem menor, países desenvolvidos como Espanha também têm suas Favelas, chamadas por lá de "Chabolas".








Morro da Catacumba,
década de 60


03 - E um terceiro mito é o de que as Favelas apenas aumentam, não importa o que o governo faça. A especulação imobiliária e planos governamentais já acabaram com algumas favelas, mesmo no Rio de Janeiro. O caso mais famoso é o da Favela da Catacumba, ao lado da Lagoa Rodrigo de Freitas, que foi extinta em 1970. A Favela do Pinto também é um outro exemplo.





Para curiosidades sobre a composição dos nomes de algumas favelas, acessem: 




O conteúdo deste post foi extraído de uma carta aberta de Clarice Cassab, professora de Geografia da Universidade Federal de Juiz de Fora, Mestra em Planejamento Urbano e Regional pela UFF e Doutora em Geografia também pela UFF. Ela faz algumas comparações estatísticas sobre os governos do PSDB, com Fernando Henrique Cardoso, e do PT, com o atual presidente Lula, no que tange principalmente às privatizações e ao sucateamento das universidades públicas.

Muito interessante para quem precisa de comparações mais específicas para definir seu voto, ficando para além da guerrinha de vaidades que está sendo feita nessa campanha eleitoral.

Espero que ajude a quem ainda está indeciso a enxergar que eleger Serra é voltar à uma fase da nossa política da qual devíamos nos envergonhar, fase até a qual nos permitimos continuar sendo colônia de tantos que só vinham sugar o que o Brasil e o povo brasileiro tinha a oferecer, sem nunca se preocupar com a emancipação desse povo, com seu crescimento, sua prosperidade.

Voltar a uma política neoliberal que via na educação das massas uma ameaça ao seu poderio é capitular à ideia das velhas oligarquias que acreditam que o povo é só número da hora da votação, que nenhum de nós (que somos quem realmente sente na pele o resultado de uma política elitista, neolieral) é dotado de consciência crítica para analisar minimamente um projeto de governo e decidir seu voto baseado nisto.

Prova disso é essa campanha que está sendo feita contra a candidata do PT. O Serra está direcionando seus ataques à vida pessoal de Dilma, porque acredita que nós não somos capazes de analisar a história política do nosso país nem os projetos de governo apresentados; acredita que somos um bando de gente ignorante que está na frente da tv assistindo a um "BBB eleitoral".

Cabe a nós dizer a todos se ele está certo ou não.

Da minha parte, eu digo NÃO. No segundo turno eu voto DILMA.


Boa leitura.


Carla Miranda



"Durante os 8 anos de governo FHC sua política foi marcada pelas privatizações. O argumento era que as privatizações permitiriam o pagamento de parte significativa da dívida interna, possibilitando, desta forma os investimentos que o Estado não conseguia mais viabilizar.
Os resultados das privatizações já são conhecidos. Lembro de apenas um – e que vai na contraposição ao argumento central em favor das privatizações. Apesar de ter ocorrido um abatimento contábil na dívida interna, o que a privatização produziu foi um aumento da dívida externa e do passivo externo do país. Isso porque, por exemplo, muitas empresas privadas pegaram empréstimos no exterior para comprarem estatais. Também porque as estatais foram vendidas para estrangeiros que remeteram (e remetem) seus lucros e dividendos para fora do Brasil. A remessa de lucros e dividendos para o exterior triplicou: de 9 bilhões de dólares, no período 1981-90, para 27,3 bilhões de dólares no período 1991-1999. Além disso, também as controladoras estrangeiras vendem no mercado interno brasileiro (em reais) mas compram dos seus fornecedores habituais no exterior (em dólares).
Vale também lembrar os inúmeros escândalos que envolveram o processo de privatização. Segundo o governo FHC, o Brasil teria de 1991 a 1998 arrecadado 85 bilhões de reais com as privatizações. Apenas a Vale (antiga Vale do Rio Doce) teve um lucro de R$ 6,635 bilhões no segundo trimestre de 2010 (conforme site oficial).
Assim, se no início do governo PSDB a dívida pública representava 38% do PIB, ao final passou para 78% e a carga tributária que era de 27% e passou para 38%. Para onde foi o dinheiro das privatizações? Certamente não foi gasto em investimentos na melhoria do salário real dos trabalhadores, na construção de habitações populares, na saúde pública ou na educação pública.
Ao término da gestão do PSDB na presidência o salário mínimo era de $70 e foram criados, em oito anos apenas 780 mil empregos. O dólar estava a R$3,26, a dívida com o FMI triplicada, os valores da reserva nacional estavam em U$ 31 bilhões e a taxa de juros Selic de 26,5 ao ano. Não houve um investimento em infra-estrutura. Apena 2 milhões de pessoas saíram da linha da pobreza. Estes são apenas alguns números.
Vejamos agora a situação das universidades públicas. Durante os anos de governo FHC não houve a criação de uma única universidade ou escola técnica. Em função de mudanças nas regras da aposentadoria houve um grande movimento de docentes se aposentando. A contrapartida do governo foi a realização de NENHUM concurso público. As universidades foram invadidas por professores substitutos mal remunerados e com baixa formação e sem desenvolverem pesquisa e/ou extensão. Universidades sem verbas caiam aos pedaços por todo o Brasil. O dinheiro para pesquisa e extensão era quase nulo e quando havia era direcionado apenas para as consideradas universidades de ponta. Não havia investimento na graduação e nem na pós. Foram 8 anos sem aumento real do salário dos professores e TAEs. Por estas razões as greves eram constantes atrasando a formação de centenas de alunos todos os anos.
Na gestão Serra no governo de São Paulo não foi muito diferente. Todas as contas do governo foram entregues a um banco privado. Todas as hidrelétricas de São Paulo foram vendidas, assim como várias estradas. Hoje o valor do pedágio em São Paulo é um dos maiores do Brasil. Serra tratou a educação na base da violência policial. Reprimiu com violência a greve dos professores estaduais e mandou a polícia invadir o campus da USP, fato que só aconteceu durante a ditadura.
Acusam o governo Lula de corrupção. Vejamos. Durante o governo PSDB estes foram alguns dos escândalos. 1 – Conivência com a corrupção; 2 – O escândalo do Sivam; 3 – A farra do Proer; 4 – Caixa-dois de campanhas; 5 – Propina na privatização; 6 – A emenda da reeleição ; 7 – Grampos telefônicos; 8 – TRT paulista; 9 – Os ralos do DNER; 10 – O “caladão”; 11 – Desvalorização do real; 12 – O caso Marka/FonteCindam; 13 – Base de Alcântara; 14 – Biopirataria oficila; 15 – O fiasco dos 500 anos; 16 – Eduardo Jorge, um personagem suspeito ; 17 – Drible na reforma tributária ; 18 – Rombo transamazônico na Sudam ; 19 – Os desvios na Sudene ; 20 – Calote no Fundef ; 21 – Abuso de MPs ; 22 – Acidentes na Petrobras ; 23 – Apoio a Fujimori ; 24 – Desmatamento na Amazônia ; 25 – Os computadores do FUST ; 26 – Arapongagem ; 27 – O esquema do FAT ; 28 – Mudanças na CLT ; 29 – Obras irregulares ; 30 – Explosão da dívida pública ; 31 – Avanço da dengue ; 32 – Verbas do BNDES ; 33 – Crescimento pífio do PIB ; 34 – Renúncias no Senado ; 35 – Racionamento de energia ; 36 – Assalto ao bolso do consumidor ; 37 – Explosão da violência ; 38 – A falácia da Reforma agrária ; 39 – Subserviência internacional ; 40 – Renda em queda e desemprego em alta ; 41 – Relações perigosas ; 42 – Violação aos direitos humanos ; 43 – Correção da tabela do IR ; 44 – Intervenção na Previ ; 45 – Barbeiragens do Banco Central (Para lembrar:
http://www.consciencia.net/brasil/03/cardoso.html).
A resposta da polícia federal? Apenas 80 prisões durante todos os 8 anos de FHC.

Vejamos agora alguns dados do governo Lula. Quitou a dívida externa e a dívida com o FMI. Em sua gestão o salário mínimo passou para $210. Foram criados 13 milhões de empregos. A taxa de desemprego caiu de 12,2% para 7,4% e 23 milhões de pessoas saíram da linha da miséria. A diminuição das desigualdades não se deu apenas pelo Bolsa Família (que senadores e deputados do PSDB constantemente em plenário chamam de bolsa esmola) mas também por programas como Pronaf e Luz para Todos. Também com o aumento do salário mínimo e geração milhões de empregos.
Lula investiu R$524 bilhões em infra-estrutura. 7.200.000 pessoas no campo foram beneficiadas com energia elétrica (durante o governo FHC foram 2.700 pessoas). Foram construídas 4,5 bilhões de habitações populares (no governo FHC, 1,7 bilhões). O presidente “ignorante” implantou 214 Institutos Federais Tecnológicos, 10 novas universidades e 45 extensões universitárias. Muitas fora das regiões dinâmicas do país. Ampliou os incentivos à pesquisa e à extensão. Aumentou o número de vagas nas universidades ampliando seu acesso.
Críticas a política do PT e ao governo Lula devem ser feitas. E torço para que tenhamos capacidade de organização e mobilização para que possamos fazê-las e com isso pressionarmos o governo na direção da resolução de muitas das suas contradições. É evidente para mim que são muitas e que ele ainda está longe de meus ideais. Mas dentre todas as críticas que posso fazer não cabe a que diz que Serra e Dilma, PT e PSDB são as mesmas coisas. Existe uma NÍTIDA, diferença entre eles. Diferença evidenciada ainda mais quando comparamos os 8 anos de FHC aos 8 anos de Lula.
É por isso que diante da atual disputa presidencial me pergunto: qual governo quero? Que projeto de Brasil que me apresentam é aquele no qual devo votar.
Creio que só posso respondê-las quando pondero que meu voto não pode ser pensando apenas individualmente (seja pelos meus interesses individuais sejam pelas minhas utopias políticas – utopias desejáveis e realizáveis, eu creio). Só posso respondê-las quando eu as trago para a conjuntura, o tempo presente. Quando analiso o mapa das eleições do primeiro turno e vejo que Serra ganhou nos estados onde reina a oligarquia da soja e da pecuária. Só posso respondê-las quando assumo abertamente que não sou partidária da política do “quanto melhor pior”. Só posso respondê-las quando me faço outra pergunta: Na atual disputa presidencial o que se coloca como melhor ao trabalhador?
Para mim é clara a resposta e diante dela não é possível não me posicionar. EU VOTO 13! EU VOTO DILMA ROUSSEFF.








Descompromisso na cobertura política: além do desvio ético

Fernando Lattman-Weltman*
"O 1º turno das eleições se aproxima e as pesquisas de intenção de voto apontam, na corrida presidencial, para um inesperado final dramático de apurações – com o que parece ser uma recente queda nas intenções de voto para a candidata favorita, Dilma Rousseff (PT). Diante disso, um velho tema de campanha reaparece com força: qual o papel eleitoral da mídia? Qual deveria ser? Até que ponto os ataques dos principais veículos de comunicação à candidatura da situação, nas últimas três semanas, podem ter ocasionado essa mudança nas perspectivas da disputa?

Não tenho intenção de responder à última pergunta. Faltam dados para qualquer análise mais consequente. É difícil saber, por enquanto, se tal queda pode ser creditada à recente ofensiva de denúncias ou se outros fatores teriam tido maior peso (tais como desempenho de candidatos em debates ou na propaganda eleitoral, sucesso da estratégia de rivais – em especial, Marina Silva (PV) –, volatilidade das intenções de voto declaradas etc.). Mas no que tange às duas primeiras perguntas vou me permitir algumas considerações. Em especial com relação à segunda, de caráter mais normativo.

É mais do que um simples chavão a noção de que a plena liberdade de expressão e, consequentemente, a plena liberdade de imprensa são imprescindíveis ao bom funcionamento de qualquer regime que se pretenda liberal e/ou democrático. Por piores que sejam os abusos eventualmente cometidos por veículos, vale aqui o mesmo raciocínio célebre de James Madison (1751-1836) acerca da importância e inevitabilidade das facções (leia-se também “partidos”) para uma vida política livre: melhor remediar os males do que tentar controlá-los e/ou impedi-los previamente. Na expressão precisa do grande federalista norte-americano: tentar impedir os diferentes grupos (bem ou mal intencionados) de se organizar e se manifestar é o mesmo que tornar rarefeito o ar de que se nutre a própria liberdade. Desse modo, tentar controlar a livre expressão é fazer do remédio algo bem pior do que a eventual doença. Que cada um use ou abuse dessa liberdade como lhe aprouver e aguente as consequências. E se porventura a lei não for suficientemente boa para incentivar comportamentos mais responsáveis por parte de quem se manifesta, que seja mudada (é para isso que existem as leis, lado a lado com a mídia, os parlamentos e as cortes de justiça).

Daí também se conclui que não há, necessariamente, impropriedade quando jornais, revistas, canais de rádio e TV ou sites manifestam preferências ideológicas, programáticas ou partidárias. A rigor, partidos e imprensa nasceram praticamente juntos, no processo histórico de construção da moderna democracia. E como dizia o velho Tocqueville, muitas vezes foi um jornal o principal articulador de interesses dispersos em um mesmo território, dando a esses interesses e a sua formulação ideológica ou programática a oportunidade inicial de aglutinação e coordenação política.

Na verdade, o grande dilema ético que acomete – ou que deveria acometer –  nossos grandes veículos “formadores de opinião” não é propriamente um dilema ético, mas um risco de ordem mercadológica e institucional mais amplo: o de confundir a livre e honesta posição política de defesa de uma facção ou programa – que, por exemplo, pode ser, e muitas vezes é, feita por meio de editoriais claros e assumidos – com o perigoso descompromisso diante da busca da isenção, equilíbrio e objetividade possíveis na cobertura jornalística da vida política e eleitoral.

O grande risco que a grande mídia de opinião ainda corre – no Brasil e alhures – é o de esquecer que a fase inicial e francamente partidária da imprensa já passou há muito tempo. Hoje, quando os partidos já se encontram perfeitamente institucionalizados – em nosso país, inclusive, sob o legítimo controle da Justiça Eleitoral –, a mídia assume outra feição institucional, completamente distinta, e cuja credibilidade (e principal valor de uso) não se encontra, de modo algum, em sua eventual coerência ideológica (e franqueza ao assumir suas preferências). Mas sim na oferta de informações de boa qualidade: que respeitem a inteligência e a autonomia do público e deixem à sua discrição a livre ponderação dos prós e contras, na escolha deste ou daquele candidato, independentemente das preferências de seus veículos de comunicação favoritos.

Confundir, hoje, um jornal, revista ou qualquer outra mídia com um partido político, mais do que desvio ético, pode ser um erro estratégico: é pura e simplesmente arriscar o capital institucional próprio da imprensa. E cujo nome é um só: credibilidade jornalística."

*Professor e pesquisador do Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil (CPDOC) da Fundação Getulio Vargas.

Publicado em 30/09/2010.

Disponível em: http://www.ibase.br/modules.php?name=Conteudo&pid=2936










A grande imprensa tentou, mas não muda o resultado de domingo

Por Paulo d´Avila Filho*

O governo deve fazer sua sucessora agora no dia três de outubro. As razões que levam ao provável desfecho eleitoral para presidente da República neste domingo têm pouca ou nenhuma relação com o que foi veiculado na cobertura da chamada grande imprensa.

Se recuarmos um pouco no tempo, veremos que o favoritismo de José Serra era em função de sua vantagem nas pesquisas e de sua óbvia superioridade pessoal, por conta de seu claro maior preparo para o cargo pretendido, em comparação com uma incógnita que seria Dilma Rousseff.  O adversário de Serra seria o que chamavam de “lulismo”. Pelo que pude depreender da argumentação, tratar-se-ia de um fenômeno político pós-PT (diagnosticado como morto). A capacidade desse fenômeno pessoal carismático batizado de “lulismo” transferir ou não seus votos para o que era considerado até então como um “poste”, sua sucessora Dilma, era a grande incógnita dos analistas cuidadosamente selecionados para dar a credibilidade necessária a mais um consenso midiático.

Ainda que vivamos em um ambiente midiático provido de inúmeras fontes de informação, a concentração ou o oligopólio formado pelos três grandes jornais do país, conduziu o debate e a cobertura eleitoral nessa direção, em particular o único grande jornal local do Rio de Janeiro, que pude acompanhar mais de perto.

Por esta razão fomos levados a consumir coberturas, comentários e diagnósticos sobre desempenho em debates televisivos: quem ganhou o debate, quem gagueja mais, quem tem mais preparo para o debate. Detalhes estéticos e de roteiro dos programas do horário eleitoral também foram explorados: os cenários, figurinos, texto, direção de arte, entre outros. Tudo voltado para as vantagens comparativas dos dois principais contendores, Dilma e Serra. Desde suas performances pregressas na vida pública até seus respectivos temperamentos: qual deles é mais carrancudo, mais maleável para trabalho em equipe, mais humano, etc.
Não resta dúvida que vender notícia não é um ramo fácil e estas curiosidades que podem ser comentadas cotidianamente constituem um filão importante de mercado. Mas para além dessas exigências, acredito que esse tipo de cobertura tenha relação com uma arraigada percepção do eleitor brasileiro inspirada na clássica interpretação de que o tal eleitor médio escolhe entre pessoas, não partidos ou programas de governo.

Acredito que o cálculo eleitoral nesta eleição tenha sido presidido muito mais por fatores estruturais ou de longa duração do que pelo escrutínio pessoal dos competidores. Analisando apenas variáveis de longa duração (que tendem a não oscilar ao longo da campanha) é possível estabelecer um quadro vantajoso à candidata do governo desde o ano passado, partindo de cinco informações básicas.

1- Segundo o Ibope, perguntados sobre o grau de satisfação com a vida que vem levando hoje, 85% estão satisfeitos ou muito satisfeitos. Esta satisfação está espalhada por todas as faixas de renda e escolaridade, embora proporcionalmente, os mais satisfeitos se encontrem nas faixas mais altas de escolaridade e renda.
2- Segundo o Ibope, perguntados sobre avaliação do governo, 96% o consideram ótimo, bom ou regular e apenas 4% o consideram ruim ou péssimo.
3- Segundo o Ibope, perguntados sobre como o presidente Lula conduz o governo, 86% aprovam.
4- Segundo o Ibope, quando perguntados sobre se sua vida ou a de seus conhecidos melhorou em relação ao consumo, 91% responderam que melhorou muito, melhorou pouco ou ficou igual. Apenas 7% acham que piorou. Os percentuais são estáveis em todas as faixas de renda e escolaridade.

5- Ainda segundo o Ibope, 26% dos eleitores afirmam possuir identidade partidária com o PT, o partido do governo e do Lula. Para se ter uma idéia do significado disso, os partidos que ficam em segundo são o PMDB e o PSDB, ambos com 6%. Os demais partidos ficam em torno de 1%.

Eleitorado satisfeito tende mais à conservação do que à mudança. Este sentimento poderia ser creditado a variáveis alheias ao governo, mas não é o que se verifica. O eleitorado acha que sua vida melhorou e que o governo tem relações com isso. O eleitor poderia considerar o governo bom a despeito do titular da cadeira, mas não é o que acontece. Assim observamos uma associação entre uma percepção positiva da vida que leva, do governo e do presidente, acompanhada da percepção comum de que sua capacidade de consumo aumentou. Ainda que com algumas variações, esta percepção se espalha pelas diversas faixas de renda e escolaridade.

Ora se estes elementos estão conectados na cabeça do eleitor é absolutamente racional seguir a orientação de Lula e votar em sua indicação, promessa de continuidade de um projeto político de inclusão, percebido de forma sensível pelo eleitor por intermédio do aumento em seus padrões de consumo, fruto do bolsa-família, bolsa- eletrodomésticos, bolsa-automóvel em 72 vezes, bolsa-casa própria, bolsa-viagem para o exterior, bolsa-juros bancários, etc. O aumento na sua capacidade de consumo é um elo que perpassa as diversas faixas de renda e escolaridade.

Se isso faz sentido, então esta eleição não pode ser explicada apenas pela transferência de votos de um líder carismático, mas pela adesão do eleitorado a um projeto de governo a partir das suas sensações ordinárias. Um governo produto de um projeto de poder de mais de 30 anos. Nestes 30 anos criou-se uma marca, o PT, que para parte do eleitorado encarna um projeto que seria inclusivo e redistributivo. Se, de fato, realizou isto é uma outra história, mas o eleitor enxerga a coerência desse projeto de poder alardeado há mais de 30 anos. É possível questionar a percepção do eleitor, mas não o caráter absolutamente racional do seu cálculo eleitoral.
O erro de alguns analistas e da oposição midiática foi não entender o amadurecimento do eleitorado que não está votando em uma pessoa, mas em um projeto político. Daí explica-se o fracasso da principal campanha de oposição, montada na desqualificação pessoal da adversária e na superioridade pessoal do seu candidato.  Serra tornou-se um Quixote, sem apoio das principais lideranças de um partido rachado, cheio de trânsfugas locais e aliado de um partido em franca decadência. Sua recusa em aproveitar o legado tucano do governo FHC só enfraqueceu e descaracterizou uma candidatura partidária. Isolada, sem projeto partidário, a campanha oscilou, flutuando ao sabor das vicissitudes quotidianas, como uma folha de papel ao vento. Não se combate o projeto de poder mencionado desta forma mambembe.

O trabalho de oposição acabou se tornando tarefa da imprensa oposicionista. Não vejo nenhum mal nisso, trata-se de embate absolutamente democrático.  Ocorre que a imprensa oposicionista sofreu três grandes derrotas provenientes de erros de diagnóstico. Esta eleição presidencial de 2010 é marcada pela baixa qualidade das informações e diagnósticos que circularam pela grande imprensa.

A primeira derrota aconteceu antes de ser deflagrado o processo eleitoral. O nosso grande jornal local, por exemplo, esforçou-se para creditar a sensação de melhoria da vida das pessoas ao cenário internacional ou aos agentes do mercado e não ao governo. Operando em uma realidade paralela, não conseguiu convencer a maioria do eleitorado, perdeu credibilidade e chegou ao período eleitoral já bastante isolado, contando apenas com a aquiescência de parte dos seus leitores habituais, que seguram as vendas, mas não alteraram os rumos da eleição. A baixa credibilidade associasse ao abandono da “fábula” da neutralidade jornalística. Lembram? Agora seriam “dois gritando”. Embora seja uma opção absolutamente democrática para um ator político em um contexto de liberdade de juízo, não sei se boa parte dos leitores absorveram a mudança em direção a uma postura claramente oposicionista.

O diagnóstico equivocado, o de um eleitor motivado por comparações pessoais, explica também porque a oposição midiática foi mal sucedida. A cobertura baseada na pessoalização disse pouco ao eleitor que precisava ser conquistado. Seus leitores, mal informados dos verdadeiros processos que definiam as preferências eleitorais ficaram desarmados, o que nos ajuda a compreender porque, mais uma vez, a opinião publicada não se transformou em opinião pública.

A terceira derrota decorre da escolha de centrar sua pauta na cobertura dos ditos escândalos de corrupção e sucumbir em sua própria armadilha. Nenhum problema em que a imprensa noticie o que considera fraudulento. O problema é que como o nosso grande jornal local possui a cultura de retratar a política como algo indiscriminadamente sujo, sugerindo a indiferenciação da atividade política, enfraquece sua própria iniciativa de denunciar aquilo que lhe parece ilícito. Outro erro de avaliação que antecede a eleição e leva ao descrédito da informação: a generalização é um descerviço a democracia. Desta forma, mesmo que se sustente que o governo praticou atos de corrupção, o eleitorado não tem garantias de que uma articulação política ou partido de oposição fará diferente. A variável perde força. É algo como a velha fábula do “é o lobo, é o lobo...”
Movido certamente por certo desespero, o quarto e último erro de avaliação foi embarcar de cabeça, de forma apressada, na pesquisa do Datafolha realizada nesta segunda feira e alardear o segundo turno. Aproveitando a capa do jornal para “demonstrar” que seriam formadores de opinião, pois teriam alterado os rumos da eleição. Na pressa, esqueceram que existem mais três ou quatro institutos de pesquisa com alta credibilidade que seguem afirmando que nada significativo foi alterado desde agosto, quando iniciou-se o horário eleitoral e Dilma foi reconhecida como candidata do governo, chegando aos 50% dos votos.  Hoje, o tom do editorial já mudou. É forçoso reconhecer que o nosso grande jornal local nem arranhou o rumo desta eleição, apesar de ter dedicado mais de 250 páginas à crítica do governo nos últimos 50 dias. Se algo pode produzir alguma alteração é a exigência do documento com foto. Ou seja, o fim do título de eleitor.

Se estiver certo, o debate que começa dentro de instantes (termino este texto pouco antes do último debate eleitoral) não afetará em nada o resultado eleitoral. A lição importante que fica desta eleição é motivo de um outro texto: a necessária reinvenção da oposição, para se tornar capaz de enfrentar o projeto de poder que será reconduzido nas urnas. O debate público e a democracia agradecerão esta imperativa renovação.

*Cientista político, professor do Departamento de Sociologia e Política da PUC-Rio

Disponível em: http://www.ibase.br/modules.php?name=Conteudo&pid=2940






Marina,... você se pintou?

Maurício Abdalla


“Marina, morena Marina, você se pintou” – diz a canção de Caymmi. Mas é provável, Marina, que tenham pintado você. Era a candidata ideal: mulher, militante, ecológica e socialmente comprometida com o “grito da Terra e o grito dos pobres”, como diz Leonardo.
Dizem que escolheu o partido errado. Pode ser. Mas, por outro lado, o que é certo neste confuso tempo de partidos gelatinosos, de alianças surreais e de pragmatismo hiperbólico? Quem pode atirar a primeira pedra no que diz respeito a escolhas partidárias?
Mas ainda assim, Marina, sua candidatura estava fadada a não decolar. Não pela causa que defende, não pela grandeza de sua figura. Mas pelo fato de que as verdadeiras causas que afetam a população do Brasil não interessam aos financiadores de campanha, às elites e aos seus meios de comunicação. A batalha não era para ser sua. Era de Dilma contra Serra. Do governo Lula contra o governo do PSDB/DEM. Assim decidiram as “famiglias” que controlam a informação no país. E elas não só decidiram quem iria duelar, mas também quiseram definir o vencedor. O Estadão dixit: Serra deve ser eleito.
Mas a estratégia de reconduzir ao poder a velha aliança PSDB/DEM estava fazendo água. O povo insistia em confirmar não a sua preferência por Dilma, mas seu apreço pelo Lula. O que, é claro, se revertia em intenção de voto em sua candidata. Mas “os filhos das trevas são mais espertos do que os filhos da luz”. Sacaram da manga um ás escondido. Usar a Marina como trampolim para levar o tucano para o segundo turno e ganhar tempo para a guerra suja.
Marina, você, cujo coração é vermelho e verde, foi pintada de azul. “Azul tucano”. Deram-lhe o espaço que sua causa nunca teve, que sua luta junto aos seringueiros e contra as elites rurais jamais alcançaria nos grandes meios de comunicação. A Globo nunca esteve ao seu lado. A Veja, a FSP, o Estadão jamais se preocuparam com a ecologia profunda. Eles sempre foram, e ainda são, seus e nossos inimigos viscerais.
Mas a estratégia deu certo. Serra foi para o segundo turno, e a mídia não cansa de propagar a “vitória da Marina”. Não aceite esse presente de grego. Hão de descartá-la assim que você falar qual é exatamente a sua luta e contra quem ela se dirige.
“Marina, você faça tudo, mas faça o favor”: não deixe que a pintem de azul tucano. Sua história não permite isso. E não deixe que seus eleitores se iludam acreditando que você está mais perto de Serra do que de Dilma. Que não pensem que sua luta pode torná-la neutra ou que pensem que para você “tanto faz”. Que os percalços e dificuldades que você teve no Governo Lula não a façam esquecer os 8 anos de FHC e os 500 anos de domínio absoluto da Casagrande no país cuja maioria vive na senzala. Não deixe que pintem “esse rosto que o povo gosta, que gosta e é só dele”.
Dilma, admitamos, não é a candidata de nossos sonhos. Mas Serra o é de nossos mais terríveis pesadelos. Ajude-nos a enfrentá-lo. Você não precisa dos paparicos da elite brasileira e de seus meios de comunicação. “Marina, você já é bonita com o que Deus lhe deu”.


Maurício Abdalla é Professor de filosofia da UFES, autor de Iara e a Arca da Filosofia (Mercuryo Jovem), dentre outros.